República: Substantivo, feminino. Coisa pública. Sistema de governo que tem em vista o interesse de todos os cidadãos. Estado governado por um ou mais cidadãos eleitos pelo povo. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa.
Com uma monarquia cada vez mais marcada pela corrupção, má governação e gerência do seu último Rei, Dom Manuel II, o povo português sentia-se cada vez mais revoltado e com necessidade de ver nascer algo novo no seu país. Portugal estava descontente com os monarcas, pois os sinais de dificuldade eram iminentes. Os republicanos, em conjunto com o Partido Republicano, queriam a mudança, o povo queria a mudança e um país com um presidente eleito pelo povo e com governação limitada a um certo número de anos, contrariamente ao regime monárquico. A tão desejada mudança chegou a 5 de Outubro de 1910. Ao fim de quase oito séculos de reinados, os mesmos valores da Revolução francesa, foram a estrela guia para alcançar a república em Portugal: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Portugal, tornou-se, então, um país livre e democrático, onde a liberdade de expressão ganhou algum peso e tornou-se mesmo uma arma para muitos. Com a república, em Portugal deixou de haver exclusão de etnias, exclusão de classes e sexos. Conquistou-se o direito de voto, que, embora universal, não deixa de se fazer excluir em determinadas regiões do globo e é, por isso, uma mais-valia para a nossa pátria. Com a implantação da república, foram criados créditos para diversos sectores, nomeadamente para a agricultura, com o intuito de os desenvolver e gerar uma maior receita no país. A greve tornou-se um direito fundamental dos trabalhadores, bem como foram estipuladas oito horas de trabalho por dia, obrigatoriamente e não mais que isso. Os trabalhadores ficaram ainda com o direito de descansar pelo menos um dia semanalmente e em 1911, foram abertas as portas pela primeira vez às mulheres na função pública. A saúde tornou-se aberta a todos, com a criação do Sistema Nacional de Saúde, mais tarde. A república é, no fundo, um sistema de governação que voga para uma maior voz do povo nas decisões políticas, através da escolha dos seus representantes. Contudo, e como em qualquer sistema político criado pelo Homem, tem as suas falhas, pois tal como mos monarcas, aqueles que, na república, representam o povo abusam muitas vezes do poder que têm. No entanto, esta falha não pode ser directamente apontada a este sistema de governo, mas sim aos Homens que se fazem representar pelo povo. A república trouxe grandes benefícios ao nosso país, mas não deixou de ficar na história como algo que também foi causa de grandes controvérsias e graves vicissitudes. Ainda não se comemorava um mês de república e já se organizava a primeira greve; a luta dos trabalhadores pelos seus direitos foi constante e, por vezes, violenta, o que levou o estado a criar a Guarda Nacional Republicana (GNR); a velha história do défice português e a preocupação com o equilíbrio orçamental desde sempre os dossiês de todos os presidentes da república e primeiros – ministros. Todavia, a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (assim designada na altura) constituiu um marco, depois daquilo a que foi o Estado Novo. Com esta entrada na União Europeia, Portugal conseguiu trazer alguma estabilidade às contas públicas com a entrada de alguns capitais extras provenientes de fundos comunitários, mas não foi o suficiente. Os problemas, os verdadeiros problemas, continuam a existir e a corrupção lidera as estatísticas, quer na monarquia, quer na república. Mas a democracia, a meu ver um dos mais importantes princípios de uma república, é um processo contínuo, que se vai cultivando ao longo do tempo. A democracia, ao contrário do que muitos pensam, não é algo que se estabelece de uma vez só, faz-se e melhora-se ao longo dos tempos (ou não). Pessoalmente, acho que, com a república, todos nós ficámos a ganhar de uma maneira ou de outra. Com a implantação da república, deixou finalmente de ser um (caprichoso) a mandar, para serem vários a governar, embora esta responsabilidade continue a ser atribuída a um grupo muito restrito da nossa sociedade.